Aqui Está minha Vida Aqui está minha vida - esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento. Aqui está minha voz - esta concha vazia, sombra de som curtindo o seu próprio lamento. Aqui está minha dor - este coral quebrado, sobrevivendo ao seu patético momento. Aqui está minha herança - este mar solitário, que de um lado era amor e, do outro, esquecimento. Autor: Cecília Meireles

 O amor manifesta-se

e sua essência me dá  existência

sou um sonho que ganha vida

sou vida na vida  
nem percebem de mim

mas já sou vida

essência e vida

e se do amor vim

amor sou

preciso do amor pra viver

                                                                                                        Sou vida

  onde cresço me é pequeno

sinto que não tem espaço pra minha vida

esperneio, grito

já demonstro que sou vida

reivindico meu lugar ao sol

quero e preciso ser amada

toque-me, existo sou vida na tua vida

mas quero sair de ti

ter minha própria vida

desejo conquistar meu mundo

andar na face da terra

tomar posse da vida

prepare teu colo

abrace-me quando eu chegar

serei vida pra tua vida

Sou perfume de útero

vida nova estreando teu céu

sou anjo e candura

a beleza pura

filha do amor e mel

sonho e esperança sou

filha e herança tua, sou

sou eu teu amor em doçura...

Cresço e continuo a amar

cada dia mais sou cor

amor e flor

sorrio com encanto

ao teu coração seduzo tanto

sou filha do teu coração

fruto do amor e da  entrega

cativante  estou

menina flor

Cresci e choro

meus sonhos pesam

minhas asas parte-se

meus voos foram rasantes

meus desejos se frustraram

sou menina desiludida

meus planos não se realizam

sou o que restou da infância

menina mulher

flor em espinho

mantenho as asas

talvez chegue a voar...

Continuo crescendo
ditam-me ordens
criam-me regras
tatuaram suas leis na minha pele
me dizem o que devo fazer
o que devo pensar
como agir
e que opinião formar
Onde estou? 
que mundo estou?

quem me formou?

Quais valores querem me dá

sou eu quem deve amar.

Crescida

rebelo-me

rasgo-me

tiro a casca

já não aceito o que me oferecem

as regras quebro

as leis rasgo

sou um ser

uma cidadão da vida

sou vida

semente do amor

meus sentimentos

eu sinto

meu amor eu amo

sou dona de mim

e amo quem quero

respeito quem me ama

só tiro a casca pra você

se você merecer

Me dá tua mão

toque meu chão

sinta minha dor

demonstre teu amor

Te dou afeto senhor

coração cheio de amor

na fraternidade do que sou

me dou a ti com fervor
...
...

Volto a despertar o sonhar

vejo cores de auroras a cintilar

são os sois do encanto meus

ocupando os espaços teus

e em tudo vejo o amor

no colorido do crepúsculo

na noite sem cor 

o sinto na lua fria e nua

mas onde o vejo melhor

é no peito

lá o conheço de cor

E no caminhar de encontro ao sol

o quente da luz

ofusca a nós

sou ainda sonho

vejo o mar de ouro

o amor como tesouro

e a ti sonho dourado

meu amado

Sou parte hoje de ti

coração que caiu nas tuas mão

sou o que oferto

a vida que guardei pra ti

sonho que sonhei

amor que só a ti dei.

 *********************************************************

A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Autor: Cecília Meireles

 Feliz natal