Estou vazia, estendida no infinito de mim, vazio...

Sorvida pelo engano, restringida ao abandono.

Por quanto tempo nutri a esperançosa percepção

de que tanto sonhei, e nesse vazio nada encontrei.

Fui além dos limites dos sonhos, transcendi o viver

quando interagi com a irrealidade do querer.

Me perdi dentro de mim procurando, mas lá não estava

 dentro do contratual, em cláusulas ocultas eu vi.

Me restou o vazio que me traga, me convencendo

da necessidade de tua ausência, de imprecisas virtudes...

Não quero dizer o que sinto, nem poderia conjugar

Daria sempre eu, eu, e nunca tu... Não é assim teu falar?

E assim meu eu cresceu e me tomou de todas as dores

 Infâmias de amores, tudo me engoliu e não existo, fui.

Assim como foste onde não encontrei, e negaste  a mim 

a condição inteira, me lançando ao vento e expando-me até o infinito.

Não quero retornar a insignificância e a pequenez nas tuas mãos

nem saberia voltar ao mesmo lugar... Minhas asas derreteram.

Seja um todo em cada amor teu, reduza a intolerância

e expanda a virtude de perdoar; Se possível, viva o amar.

Meu vazio é necessário para que eu o preencha de bons sentimentos

Minha dor é fortaleza onde  preparo sabiamente o amanhã.

Já comecei a edificação de minha alma, resignando-me ao bem

desejando que de mim brilhe o amor, seja em que condição for.

Valquíria Calado.