Se eu pudesse não me entender deixaria de sofrer

Cumpriria à vida esquecida de mim.

Mas me entendo.

Tenho o tempo, o silêncio e o espaço de mim.

Sou instintiva, intuitiva, compreensiva do sentir

Sei o que me aflige, e porque me acomete.

Posso intuir a direção do vento, a chegada da chuva

E a força das muitas águas, que arrastam e destrói.

Distingo o andar da carruagem pelo galope dos cavalos.

Posso sentir a aproximação, e as intenções dos corações.

Gosto de entender o tempo e seus desígnios

as atitudes e suas funções, justificar certas ações.

Vejo o que traga a esperança, consumindo-a inteira.

Leio o decreto das condenações, opções alheias...

Folheio... folhas escritas num passado próximo

para entender o futuro, muitas vezes escassos.

E como tudo que cai no mar, certamente a maré jogará fora.

Assim o oculto que a mente engana, o coração traiçoeiro revela.

Seria bom que eu fosse iludida por sonhos

amasse involuntariamente, de uma forma tão visionária

que cegasse o entender, não pressentisse o acontecer.

Mesmo amando entendo, vejo e reconheço o mar profundo

a me tragar, me levando fundo num naufrágio absurdo sem fim...

Não adianta oásis de se e talvez, são miragens de um coração

frutos da árvore ilusão, que jamais colherás, nem sentirás o sabor.

Viver a realidade, ter raiz desprendida, ser uma vitória régia

flutuar em águas cristalinas da verdade, é tarefa de gente ousada

que tem utopia feliz, coragem de navegantes, descobridores da vida.

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Valquíria Calado